Quando eu fui contratada para ser trainee do Banco de Eventos, Victor Oliva - o dono da empresa, me disse que eu havia sido chamada para fazer parte do programa pela minha cara de pau. E se você acha que esse comentário dele foi uma crítica velada, esquece...foi mesmo um elogio. Minha cara de pau fez com que ele abrisse uma vaga extra no programa que ele havia desenvolvido, vaga extra que até então não havia sido dada a ninguém.
Há quem diga que apostar no "o não eu já tenho, vou arriscar o sim" seja falta de elegância ou educação. Eu já tenho uma outra teoria: a "sorte" encontra quem teve coragem de tentar um sim. Com bom senso sempre, claro, mas sem medo de tentar.
Pois bem. O tempo passou e sempre que eu me sentia acuada por alguma razão, eu lembrava que uma empresa incrível havia me contratado "por minha cara de pau", eu deixava de lado o medo e dava a minha cara ao tapa. Alguma vezes funcionou e outras não. É a vida. Com resultado esperado ou não, eu confesso que nunca tive de tentar. Nunca me senti inferior quando estava em um meio que, pela lógica, não era o meu. Eu nunca acreditei nessa história de "eu não pertenço a este lugar", mas sim no "eu faço o lugar funcionar para mim de alguma maneira".
Corta para a minha mudança para a Alemanha. Uma mudança que exigiu muito de mim e, maior do que qualquer dificuldade, me apresentou a uma língua que eu tinha zero conhecimento (e que, cá entre nós, não é de Deus porque...ô língua difícil). E mesmo assim é com muito orgulho que eu te conto: eu sempre soube que essa era uma situação temporária. Eu sempre soube que precisaria de tempo para aprender a língua e ter o mínimo de traquejo para me comunicar. E eu também sempre soube que quando eu conquistasse o idioma, a Alemanha que deveria se preparar para mim.
Veja bem, não me entenda mal...não é arrogância, eu juro. Mas é merecimento. Não só o meu, mas o seu também, que está me lendo aí do outro lado. Todas nós temos direito de um lugar à mesa que desejamos. Todas nós merecemos sentar em um espaço de igualdade, sem medo de estar fora do lugar ou ocupando um espaço que não é seu. O seu espaço é seu e ponto.
E também não ache que sou Poliana e vejo tudo com a ótica de uma lente cor de rosa (gold, por favor, cor da Prima Donna). Eu sei bem das dificuldades, das diferenças entre gêneros, do preconceito racial e de todos os impeditivos para que uma mulher não ocupe determinado lugar. Sei que existem fatores externos à minha vontade que podem, por exemplo, puxar a minha cadeira e me fazer cair de bumbum no chão. Mas eu sei também que se eu acreditar em todos os fatores externos, vou perder a minha força interna. Vou ser eu mesma um peso a mais para carregar. Então não é ser Poliana, é dar o meu melhor para que eu agarre a cadeira e sente PORQUE EU QUERO. Por que eu sei o quanto eu trabalhei e me dediquei para chegar até aqui.
Escrevo essa #cartaabertaparavocê 2 no mesmo dia que disse isso ao mediar um evento do Aquarela, uma associação sem fins lucrativos que apoia a mulher imigrante na Alemanha. Ainda que hoje eu more em um país que não é o meu de nascimento, eu mereço fazer parte desse país. Eu pago impostos (e não pago pouco), eu produzo, eu vivo...não sou menos do que uma pessoa que nasceu aqui; pelo contrário, acredito que assim como a Alemanha tem a me ensinar, eu tenho a ensinar também.
Então é isso. Jamais tenha medo de puxar a sua cadeira para sentar à mesa. Sente-se e fique à vontade.
Um beijo e até a próxima, Tati Fanti
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